África do Sul, clima coloca em risco a protea, a flor nacional. “Aqui é como o elefante ou o leão”

Em sua fazenda, duas horas ao norte de Joanesburgo, Nico Thuynsma contempla milhares de proteas de cores vibrantes, laranja, amarelo e rosa. É aqui que cresce a flor nacional da África do Sul, a 1.500 quilômetros de seu habitat natural, localizado no extremo sul da África.
Essas flores da família Proteaceae "são todas diferentes", explica o agricultor de 55 anos. Mas estão ameaçadas, de acordo com um relatório do Instituto Nacional de Biodiversidade da África do Sul (SANBI).
A África do Sul tem mais de 350 variedades: algumas são extravagantes, como as de um filme de ficção científica, outras são mais discretas, como a "noiva corada", com seus delicados botões rosa. A mais majestosa é a "protee royale", uma coroa rosa e branca do tamanho de um melão que pode levar até quatro anos para florescer.
Símbolo de resiliência graças às suas raízes adaptadas a solos pobres e à sua capacidade de regeneração após incêndios, é a flor nacional da África do Sul, representada na moeda, e dá nome à seleção de críquete do país e a inúmeras marcas. A protea será o logotipo da presidência sul-africana do G20, cuja cúpula está marcada para novembro em Joanesburgo.

Com 10 milhões de flores exportadas no ano passado, segundo a Cape Flora, a organização do setor, as proteas também estão no centro de um mercado de 275 milhões de rands (13 milhões de euros). Mas essas plantas icônicas estão ameaçadas: segundo a SANBI, quase metade das 353 proteas da África do Sul já estão em perigo de extinção devido à pressão sobre seu habitat nativo nas montanhas do Cabo.
Um relatório do instituto destaca em particular a agricultura invasiva, a proliferação de espécies exóticas e incêndios florestais cada vez mais destrutivos.
"As pessoas vêm à África do Sul para ver proteas", diz Nigel Barker, professor de ciência vegetal na Universidade de Pretória. "Elas são o equivalente floral do elefante ou do leão."
A maioria é endêmica ou semi-endêmica do bioma da Região Floral do Cabo, o "fynbos" ("arbusto ralo"), que é "um dos lugares mais extraordinários do mundo para plantas em termos de diversidade, densidade e número de espécies endêmicas", segundo a UNESCO. Mas as projeções climáticas para as próximas décadas preveem "condições mais quentes e secas", alerta Barker. "No futuro, lidaremos com um tipo de vegetação completamente diferente, quase semidesértica em alguns lugares". "Muitas espécies, cuja distribuição natural é tão restrita, provavelmente desaparecerão nesses cenários", teme. "A única solução será então cultivá-las artificialmente... em estufas ou fazendas com irrigação controlada".

A fazenda de Thuynsma, nas savanas do norte do país, é um exemplo disso. Aqui, os invernos são secos e frios e os verões, chuvosos: condições que não eram consideradas favoráveis ao crescimento desta flor nativa do clima mediterrâneo do Cabo. No entanto, por quase 30 anos, o agricultor cultivou mais de 200 variedades de proteas, algumas das quais há muito foram abandonadas pelos floristas em seu habitat original.
Em um terreno em sua fazenda, onde ela está conduzindo seu experimento mais recente, 36 variedades foram plantadas com apenas dois litros de gel de irrigação e nenhum outro suporte. "Espero revelar o poder de algumas dessas flores", explica Thuynsma. "Elas crescem em condições muito difíceis no Cabo Ocidental. Elas têm garra." Ela brinca: "Não acho que tenha uma resposta para as mudanças climáticas. Mas tenho uma solução: plantar proteas." A poucos metros de distância, em um viveiro aquecido, milhares de mudas aguardam sua vez. "Eu as amo, eu as proteo, eu as coleciono", sorri Thuynsma. "A protea faz parte do DNA da África do Sul."

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